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ESTOICISMO: INTRODUÇÃO


Hagaro
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Créditos:

http://tyrantdesisto.blogspot.com

ESTOICISMO: INTRODUÇÃO

 

UM PLANO PARA A VIDA

 

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O que você espera da vida? Você pode responder esta questão dizendo que quer uma esposa cuidadosa, um bom emprego e uma boa casa, mas estas são na realidade apenas algumas das coisas que você espera na vida. Ao perguntar o que você espera da vida, estou fazendo a pergunta em seu sentido mais amplo. Não estou perguntando a respeito dos objetivos que você formula conforme desenvolve suas atividades diárias, mas sobre seu grande objetivo de vida. Em outras palavras, das coisas da vida que você pode procurar alcançar, qual delas você acredita ser a mais valiosa?

Muitas pessoas podem ter problemas em dar nome a este objetivo. Elas sabem o que querem minuto a minuto ou até década a década durante suas vidas, mas nunca deram uma pausa para considerar seus maiores objetivos da vida. É provavelmente compreensível que nunca tenham feito isto. Nossa cultura não encoraja as pessoas a pensarem a respeito de tais coisas; de fato, ela os entrega um fluxo sem fim de distrações para que elas nunca precisem disto. Mas um Grande Objetivo de vida é o primeiro componente de uma Filosofia de Vida.

Isto significa que se você não tem um Grande Objetivo de Vida, você não tem uma Filosofia de Vida coerente.

 

sobre como atingir este objetivo, é muito provável que você não o atinja. Por isso, o segundo componente de uma Filosofia de Vida é uma estratégia para atingir seu Grande Objetivo de Vida.

Esta estratégia irá especificar o que você deverá fazer, enquanto também dá andamento em suas atividades diárias, para maximizar suas chances de obter esta coisa na vida que você considera ser a mais valiosa de todas. Se quisermos encontrar meios de não desperdiçar nossa riqueza, podemos facilmente encontrar experts para no ajudar. Olhando na lista telefônica, nós encontraremos muitos números de planejadores financeiros certificados. Estes indivíduos podem nos ajudar a clarificar nossos objetivos financeiros: Quanto, por exemplo, deveríamos economizar para a aposentadoria? E tendo esclarecido estes objetivos, eles podem nos aconselhar como atingi-los.

Suponhamos, contudo, que queremos encontrar meios de não desperdiçar, não nosso dinheiro, mas nossa vida. Nós devemos buscar um expert para nos guiar: um filósofo da vida. Este indivíduo poderia nos ajudar a pensar sobre nossos objetivos de vida e sobre quais destes objetivos são, de fato, dignos de ser perseguidos. Ele poderia nos lembrar de que pelo fato de os objetivos poderem entrar em conflito, nós precisamos decidir quais de nossos objetivos devem ter prioridade quando uma encruzilhada se apresenta. Ele então nos ajudaria a organizar nossos objetivos e coloca-los em uma hierarquia. O objetivo no topo desta hierarquia será aquilo a que chamei de Grande Objetivo de Vida: Ou seja, o objetivo que não estaríamos dispostos a sacrificar para atingir outros objetivos. E após nos ajudar a seleciona-lo, o filósofo da vida nos ajudará a traçar uma estratégia para alcança-lo.

O local mais óbvio onde podemos procurar por um filósofo da vida é no departamento de filosofia da universidade local. Visitando os escritórios da faculdade encontraremos filósofos se especializando em metafísica, lógica, politica, ciência, religião e ética. Podemos também encontrar filósofos se especializando na filosofia do esporte, filosofia do feminismo, e até mesmo na filosofia da filosofia. Mas, a menos que estejamos em uma universidade muito pouco usual, não encontraremos filósofos da vida da maneira que tenho em mente.

Nem sempre foi assim. Muitos dos antigos filósofos Gregos e Romanos, por exemplo, não apenas pensavam que as filosofias da vida eram dignas de serem contempladas, mas também que a razão de ser da filosofia era desenvolvê-las. Estes filósofos tipicamente tinham também um interesse em outras áreas da filosofia – em lógica, por exemplo - mas só por pensarem que perseguir este interesse os ajudaria a desenvolver a filosofia de vida.

Além disso, estes antigos filósofos não guardavam suas descobertas apenas para si mesmos ou dividiam-nas apenas com seus companheiros filósofos. Em vez disso, eles formavam escolas e recebiam como aprendizes qualquer um que desejasse adquirir uma filosofia de vida.

Diferentes escolas ofereciam diferentes conselhos sobre o que uma pessoa deve fazer para ter uma boa vida. Antístenes, um aprendiz de Sócrates, fundou a Escola Cínica de Filosofia, que advogava um estilo de vida ascético. Aristipo, outro aprendiz de Sócrates fundou a Escola Cirenaica, que advogava um estilo de vida hedonista. Em meio a estes extremos, encontramos entre muitas outras escolas, a Escola Epicurista, a Escola Cética, e, de maior interesse para nós, a Escola Estoica fundada por Zenão de Citio.

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Os filósofos associados com estas escolas eram enfáticos a respeito de seus interesses em filosofias de vida.

De acordo com Epicuro, por exemplo, “Vão é o mundo de um filósofo que não ajuda a diminuir algum sofrimento ao homem. Assim como não existe vantagem na medicina que não elimina as doenças do corpo, também é na filosofia, caso não elimine o sofrimento da mente.” E de acordo com o filosofo estoico Sêneca, sobre quem muito se falará neste livro “Aquele que estuda com um filósofo deve absorver e levar com ele uma coisa boa todos dias: Deve retornar diariamente para casa um homem mais sóbrio, ou no caminho de se tornar assim.”

Este livro é escrito para aqueles procurando uma filosofia de vida. Nas páginas que se seguem, concentro minha atenção na filosofia que achei útil e que suspeito que muitos leitores também acharão. Ela é a filosofia dos antigos Estoicos. A filosofia de vida estoica pode ser velha, mas merece a atenção de qualquer individuo moderno que deseje ter uma vida que tenha significado e plenitude – que deseje, isto é, ter uma boa vida.

Em outras palavras, este livro apresenta conselhos sobre como as pessoas podem viver. Mais precisamente, agirei como um condutor dos conselhos oferecidos pelos filósofos estoicos de dois mil anos atrás. Isto é uma coisa que meus companheiros filósofos odiariam fazer,mas novamente, seus interesses em filosofia são primariamente “acadêmicos”; suas pesquisas, deve-se dizer, são primariamente teóricas ou históricas. Meu interesse em estoicismo, como forma de comparar, é resolutamente prática: Meu objetivo é colocar esta filosofia para trabalhar em minha vida e encorajar outros a coloca-la para trabalhar nas deles.

Os antigos estoicos, acredito, poderiam ter encorajado os dois tipos de esforços, mas também poderiam ter insistido que a razão primária de se estudar estoicismo é par que possamos coloca-lo em prática.

Outra coisa a se levar em consideração é que apesar do Estoicismo ser uma filosofia, ele tem um significante componente psicológico. Os Estoicos entendem que uma vida atormentada por emoções negativas – incluindo raiva, ansiedade, medo, tristeza e inveja – não será uma boa vida.

Eles então se tornaram atentos observadores da maneira como funciona a mente humana e como resultado se tornaram alguns dos mais esclarecedores psicólogos do mundo antigo. Eles começaram a desenvolver técnicas para prevenir a instauração de emoções negativas e maneiras de extingui-las quando as tentativas de prevenção falhassem. Mesmos os leitores que mais desconfiados a respeito de especulação filosófica podem ter algum interesse nestas técnicas. Quem entre nós, enfim, não gostaria de reduzir o numero de emoções negativas que experimentamos no dia a dia?

Apesar de ter estudado filosofia por toda minha vida adulta, eu era, até recentemente, lamentavelmente ignorante sobre Estoicismo. Meus professores no colégio e na escola de graduação nunca me pediram que lesse os Estoicos, e apesar de ser um leitor ávido, não vi necessidade de lê-los por minha conta. De maneira geral, não vi motivos para ponderar sobre uma filosofia de vida. Pelo contrário me senti confortável com o que era, para a maioria das pessoas uma filosofia de vida padrão: passar os dias procurando uma mistura interessante de afluências, status social e prazer. Minha filosofia de vida, em outras palavras, era o que pode caridosamente ser chamado de uma forma esclarecida de Hedonismo.

Em minha quinta década de vida, eventos conspiraram para me introduzir ao Estoicismo. O primeiro deles foi a publicação em 1998 do autor Tom Wolfe do livro A Man in Full. Nele um personagem acidentalmente descobre o Filósofo Estoico Epiteto e então começa a utilizar sua filosofia. Eu achei isto simultaneamente intrigante e complicado.

Dois anos depois comecei a fazer pesquisas para um livro sobre o Desejo. Como parte de minha pesquisa examinei o conselho que é dado à milênios sobre controlar os desejos. Comecei procurando saber quais religiões, incluindo o Cristianismo, Hinduísmo, Taoísmo, Sufismo e Budismo (em particular o Budismo Zen), tinham para dizer a respeito do Desejo. Fui examinar os conselhos sobre controle do Desejo oferecido por filósofos, mas descobri que apenas uns poucos deles ofereceram tais conselhos.

Proeminentes entre estes estavam os filósofos Helenísticos: os Epicuristas, Céticos e Estoicos.

 

Na condução de minhas pesquisas sobre o Desejo, eu tinha segundas intenções. Eu já estava à bastante tempo intrigado pelo Budismo Zen e imaginei que observando isso mais de perto em conexão com minhas pesquisas eu poderia me transformar em um convertido completo. Mas o que encontrei, para minha surpresa, foi que o Estoicismo e o Budismo Zen tem certas coisas em comum. Os dois, por exemplo, focam na importância da contemplação da transitoriedade da natureza do mundo ao nosso redor e a importância do controle de nossos desejos, pelo menos até onde é possível fazer isso. Eles também nos guiam a procurar tranquilidade e nos dão auxílio sobre como obtê-la e mantê-la. Além disso percebi que o Estoicismo se encaixava melhor a minha natureza analítica que o Budismo Zen. Como resultado, me encontrei, para meu espanto, brincando com a ideia de me transformar, ao invés de um praticante do Budismo Zen, em um Estoico praticante.

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Antes de iniciar minha pesquisa a respeito do Desejo, Estoicismo tinha sido, para mim, uma fonte errada de Filosofia de Vida, mas ao ler os Estoicos, descobri que quase tudo que pensava que sabia sobre eles estava errado. Para começar, eu pensava que o dicionário definia um Estoico como “Aquele que é aparentemente indiferente ou não afetado pela alegria, a tristeza, o prazer ou a dor.” Assim sendo eu esperava que os Estoicos com E-maísculo fossem Estoicos com e-minúsculo – que eles fossem indivíduos emocionalmente reprimidos. Descobri, então, que o objetivo dos Estoicos não era banir a emoção da vida, mas sim banir as emoções negativas.

Quando li os trabalhos dos Estoicos, encontrei indivíduos alegres e otimistas a respeito da vida (mesmo apesar deles focarem em certo ponto em passar algum tempo pensando a respeito de todas as coisas ruins que poderiam lhes acontecer) e que foram completamente capazes de aproveitar os prazeres da vida (enquanto ao mesmo tempo eram cuidadosos em não ser escravizados por estes prazeres). Encontrei também, para minha surpresa, individuos que valorizaram a felicidade; e que, de acordo com Sêneca, o que os Estoicos buscavam descobrir “era como a mente pode sempre procurar uma direção firme e favorável, sendo bem disposta a respeito de si mesma, e encarando suas condições com alegria.” Ele também indicou que alguém que pratica os princípios Estoicos “deve, queira ele ou não, necessariamente se cercar de um constante sentimento de alegria e felicidade que são profundos e interiores, desde que encontre deleite em seus próprios recursos, e não deseje felicidades maiores que sua felicidade interior.”

Em linhas similares, o Filósofo Estoico Caio Musônio Rufo nos diz que se vivermos de acordo com os princípios Estoicos,“uma alegre disposição e uma alegria segura” automaticamente se seguirá.

Ao invés de ser indivíduos passivos que tristemente se resignam de estar do lado prejudicado pelos abusos e injustiças do mundo, os Estoicos eram totalmente engajados em suas vidas e trabalhavam duro para fazer do mundo um lugar melhor. Consideremos, por exemplo, Catão, o Jovem, (mesmo que não tenha contribuído para a literatura do Estoicismo, Catão foi um Estoico praticante; sendo que, Sêneca se refere a ele como o Estoico Perfeito.) Seu Estoicismo não evitou que Catão lutasse bravamente pela restauração da Republica Romana.

De forma semelhante, Sêneca parece ter sido notavelmente enérgico: Além de ser um Filósofo, era também dramaturgo, conselheiro do imperador, e o equivalente do primeiro século a um banqueiro de investimentos. E Marco Aurélio, além de ser Filósofo, foi um imperador de Roma – na verdade, um dos maiores imperadores romanos. Enquanto lia sobre os Estoicos, me encontrei preenchido por admiração a eles. Eles foram corajosos, temperados, razoáveis e disciplinados – características que eu gostaria de possuir. Eles também pensavam ser importante que nós cumpríssemos nossas obrigações e ajudássemos nossos camaradas humanos – valores que eu compartilhava.

 

Em minha pesquisa sobre o Desejo, descobri um consenso unânime entre pessoas pensadoras de que não obteríamos uma vida boa e com significado se não superássemos nossa insaciabilidade. Existe consenso também de que um maravilhoso método de domar nossa tendência a sempre querer mais é persuadir a nós mesmos a querer as coisas que já possuímos. Isto pareceu ser um ponto importante, mas deixava aberta a questão sobre como, exatamente, poderíamos alcançar isso. Os Estoicos, fiquei feliz em descobrir, tinham uma resposta para esta questão. Eles desenvolveram uma técnica bastante simples que, se praticada, pode nos fazer gratos, mesmo por um curto período de tempo, por sermos a pessoa que somos, vivendo a vida que vivemos, quase independentemente de qual esta vida possa ser.

Quanto mais eu estudava os Estoicos, mais me encontrava absorto em suas filosofias. Mas quando tentei dividir com os outros este meu novo entusiasmo pelo Estoicismo, rapidamente descobri que não estava sozinho em ter mal interpretado a filosofia.

Amigos, parentes e até meus colegas de universidade pareciam pensar que os Estoicos eram indivíduos que tinham como objetivo suprimir todas as emoções e que levaram vidas tristes e passivas. Percebi então que os Estoicos eram vitimas de um equívoco, que até recentemente eu ajudava a promover.

Este entendimento sozinho foi o suficiente para me motivar a escrever um livro sobre os Estoicos – um livro que poderia deixar as coisas claras – mas como aconteceu, tive uma segunda motivação ainda mais forte que esta. Após aprender sobre o Estoicismo, comecei, discretamente, de maneira experimental, dar uma chance a ele como minha Filosofia de Vida. O experimento foi tão suficientemente bem sucedido que me senti compelido a reportar minhas descobertas ao mundo, acreditando que outros poderiam se beneficiar em estudar os Estoicos e em adotar sua Filosofia de Vida.

Leitores irão naturalmente ficar curiosos sobre o que é envolvido na pratica do Estoicismo. Na Grécia antiga e em Roma, um candidato a Estoico pode ter aprendido a como praticar o Estoicismo frequentando uma escola Estoica, mas isto não é mais possível.

Um candidato a Estoico moderno pode, como alternativa, consultar os trabalhos dos antigos Estoicos, mas o que ele irá descobrir ao tentar fazer isso e que muito destes trabalhos – em particular, aqueles dos Estoicos Gregos – foram perdidos. Além disso, se ele ler os trabalhos que sobreviveram, irá descobrir que apesar deles discutirem o Estoicismo longamente, não oferecem um plano de ensino, como seria ideal para Estoicos iniciantes. O Desafio que encarei ao escrever este livro foi o de construir este plano de ensino através de dicas espalhadas ao longo dos escritos Estoicos.

Apesar do restante deste livro dar orientações detalhadas aos candidatos a Estoicos, deixem-me descrever aqui, em caráter preliminar, algumas das coisas que precisaremos fazer se adotarmos o Estoicismo como nossa Filosofia de Vida.

Nós iremos reconsiderar nossos objetivos de vida. Em particular, vamos mergulhar no conceito Estoico de que muitas das coisas que desejamos – mais notavelmente, fama e fortuna – não valem apena serem perseguidas. Vamos, ao invés disso concentrar nossas atenções a procura da Tranquilidade e daquilo que os Estoicos chamavam de Virtude. Vamos descobrir que a Virtude Estoica tem muito pouco em comum com o que as pessoas atualmente remetem a esta palavra. Descobriremos também que a Tranquilidade que os Estoicos buscavam não é o tipo de tranquilidade que pode ser comprada ou possa ser alcançada pela injestão de tranquilizantes; ou seja, não é, em outras palavras, um estado de em que nos tornamos Zumbis. É na verdade um estado marcado pela ausência de emoções negativas, como raiva, tristeza, ansiedade ou medo, e sim a presença de emoções positivas – em particular a alegria.

Nós estudaremos as varias técnicas psicológicas desenvolvidas pelos Estoicos para atingir e manter a Tranquilidade, e iremos aplicar estas técnicas em nosso dia a dia. Iremos, por exemplo, procurar distinguir entre as coisas que podemos controlar e as coisas que não podemos, para que então não mais nos preocupemos a respeito das coisas que não controlamos e ao invés disso possamos focar nossa atenção nas coisas que podemos controlar. Nós iremos também reconhecer como é fácil para outras pessoas perturbarem nossa Tranquilidade, e iremos também praticar estratégias Estoicas para prevenir que elas possam nos atingir.

Finalmente, vamos nos tornar observadores mais atentos de nossas vidas. Vamos nos observar enquanto seguimos nossos afazeres diários e mais tarde refletiremos sobre o que vimos, tentando identificar as fontes de angústias em nossas vidas e pensar em como evitar estas angústias.

Praticando o Estoicismo irá obviamente exigir esforço, mas isso é comum em todas as Filosofias de Vida genuínas. Realmente, até mesmo o “Hedonismo Esclarecido” exige esforço. O grande objetivo do Hedonista Esclarecido é maximizar os prazeres que ele sente durante o curso de sua vida. Para praticar esta Filosofia de Vida, ele passará tempo descobrindo, explorando e hierarquizando fontes de prazeres e investigando quaisquer efeitos colaterais indesejados que eles tenham. O Hedonista Esclarecidoirá então traçar estratégias para maximizar a quantidade de prazer que ele experimenta.

(Hedonismo Negligente, em que uma pessoa procura cegamente por prazeres fugazes, não é, penso eu, uma Filosofia de Vida coerente.)

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[CONTINUAÇÃO]...

 

O esforço requerido na prática do Estoicismo será provavelmente maior que o requerido na prática do Hedonismo Esclarecido, mas menos do que o requerido na pratica do, já dito, Budismo Zen. Um Budista Zen terá que meditar, uma pratica que tanto consome tempo quanto (em algumas de suas formas) física e mentalmente desafiante. A prática do Estoicismo, em contraste, não nos requer que reservemos períodos de tempo em que “somos Estoicos.” Ele requer que periodicamente nós possamos refletir sobre nossas vidas, mas estes períodos de reflexão podem ser geralmente encurtados em momentos perdidos da do dia, como quando estamos parados no trânsito ou – esta foi uma recomendação de Sêneca – quando estamos deitados na cama esperando pelo sono.

Quando levamos em consideração os custos envolvidos com a prática do Estoicismo ou qualquer outra Filosofia de Vida, os leitores podem perceber que também existem custos envolvidos em não ter uma Filosofia de Vida. Eu já mencionei aqui um destes custos: o perigo de você desperdiçar seus dias perseguindo coisas sem valor, desta forma desperdiçando também sua vida.

Alguns leitores podem, a este ponto, se a prática do Estoicismo é compatível com suas crenças religiosas. No caso da maioria das religiões, acredito que sim. Cristão em particular erão descobrir que as doutrinas Estoicas ressoam com suas visões religiosas. Eles irão, por exemplo, compartilhar do desejo Estoico de alcançar a Tranquilidade, apesar dos Cristãos a chamarem de Paz. Eles irão apreciar o conselho de Marcos Aurélio sobre “Amar o próximo.”

Quando encontrarem a observação de Epíteto de que algumas coisas estão ao nosso alcance e outras não, e que se formos inteligentes, focaremos nas coisas ao nosso alcance, Cristãos se lembrarão da “Oração da Serenidade,” muitas vezes atribuída ao teólogo Reinhold Niebuhr.

Tendo isto dito, devo acrescentar que também é possível para algumas pessoas serem simultaneamente Agnósticas e praticar o Estoicismo.

O restante deste livro é dividido em quatro partes. Na parte 1, irei descrever o nascimento da Filosofia. Apesar de filósofos modernos tenderem a passar seus dias debatendo tópicos esotéricos, o objetivo primário de muitos filósofos antigos era o de ajudar pessoas comuns a viver vidas melhores. Estoicismo, como veremos, era uma das mais populares e bem sucedidas das antigas escolas de Filosofia.

Nas partes 2 e 3, irei explicar o que devemos fazer para praticar o Estoicismo. Irei começar descrevendo as técnicas psicológicas que os Estoicos desenvolveram para obter e subsequentemente manter a Tranquilidade. Então descrevo o conselho Estoico sobre a melhor maneira de lidar com as angústias da vida cotidiana: Como, por exemplo, devemos responder quando alguém nos insultar? Mesmo que muito tenha mudados nos últimos dois milênios, a psicologia humana mudou muito pouco. Este é o motivo pelo qual muitos de nós vivendo no século vinte e um podem se beneficiar dos conselhos que filósofos como Sêneca ofereceu aos romanos do primeiro século.

Finalmente, na parte 4 deste livro, defendo o Estoicismo contra varias críticas, e reavalio a Psicologia Estoica sob a luz das descobertas cientificas modernas. Termino o livro revelando os aprendizados que tive com minha própria pratica do Estoicismo.

Meus camaradas acadêmicos podem ter algum interesse neste livro; eles podem, por exemplo, estar curiosos sobre minhas interpretações de vários enunciados Estoicos. O público que tenho interesse em alcançar, afinal, são indivíduos comuns que podem estar preocupados em estar desperdiçando suas vidas. Isso inclui aqueles que chegaram a conclusão de que lhes falta uma Filosofia de Vida coerente e como resultado estão se perdendo em suas atividades diárias: O que eles trabalham para atingir um dia apenas desfaz o que eles atingiram no dia anterior. Isso também inclui aqueles que tem uma Filosofia de Vida mas tem medo dela não ser efetiva.

Escrevi este compilado com a seguinte questão em mente: Se os antigos Estoicos tivesse escrito uma cartilha para pessoas do século vinte e um – um livro que nos contaria como ter uma vida satisfatória – como este livro seria? As páginas que se seguem são minha resposta a esta pergunta.

 

(Abrindo este video no youtube você conseguirá colocar a legenda em português)

 

A Ascensão do Estoicismo

A Filosofia Toma um Interesse pela Vida

 

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Provavelmente sempre existiram filósofos, em algum sentido da palavra. Eles foram aqueles indivíduos que não apenas levantaram perguntas - como De onde o mundo surgiu? De onde as pessoas vieram? e Porque existem os Arco Íris? - mas mais importante, continuaram fazendo as perguntas seguintes. Quando dito, por exemplo, que o mundo foi criado pelos Deuses, estes Proto-filósofos perceberam que esta resposta não atingia a raiz da questão. Eles continuaram em perguntar por qual motivo os Deuses fizeram o mundo, como o fizeram, e - mais vexatoriamente para aqueles tentando responder suas perguntas - quem fez os Deuses.

 

 

Seja como tenha sido ou onde ele começou, o pensamento filosófico deu um gigante passo a frente no Século VI. Encontramos Pitágoras (570 - 500 ac) filosofando na Itália; Thales (636-546 ac), Anaximandro (641-547 ac), e Heráclito (535-475 ac) na Grécia; Confúcio (551-479 ac) na China; e Buda (563-483 ac) na Índia. Não é claro se estes indivíduos descobriram a filosofia independentemente uns dos outros; nem é claro em qual direção a influência filosófica fluiu, se ela sequer fluiu.

 

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A MORTE DE SÓCRATES

 

É como se Sócrates, em sua morte, tivesse se dividido em Platão e Antístenes, com Platão herdando o interesse de Sócrates em teoria e Antístenes herdado sua preocupação com viver uma boa vida. Teria sido maravilhoso se estes dois lados da filosofia tivessem florescido no milênio subsequente, na medida em que as pessoas se beneficiariam tanto da teorização filosófica quanto da aplicação da filosofia em suas próprias vidas. Infelizmente, apesar da teorização filosófica ter florescido, o lado prático foi colocado de lado.

 

 

Abaixo de um governo despótico como o da antiga Pérsia, a habilidade de escrever, ler e fazer contas foi importante aos oficiais, ao contrário da habilidade de persuasão. Oficiais precisavam apenas dar ordens, e aqueles sob seus comandos deveriam obedecer sem hesitação. Na Grécia e em Roma, contudo, a ascensão da democracia significava que aqueles capazes de persuadir outros eram mais suscetíveis a ter uma carreira política ou jurídica de sucesso. Foi em parte por essa razão que influentes pais gregos e romanos, após a educação secundária de uma criança estar completa, buscavam professores que pudessem desenvolver as habilidades persuasivas de seus filhos.

 

 

Estes pais podem ter procurado os serviços de um sofista, cujo objetivo era ensinar seus pupilos a vencer argumentações. Para atingir este objetivo, os sofistas ensinavam várias técnicas de persuasão, incluindo tanto o apelo à razão quanto o apelo à emoção. Em particular, eles ensinavam aos estudantes que era possível argumentar a favor ou contra qualquer proposição. Além de desenvolver as habilidades argumentativas de seus pupilos, os sofistas desenvolveram suas habilidades linguísticas, para que eles pudessem efetivamente comunicar os argumentos que elaboravam.

 

 

Alternativamente, os pais podiam buscar os serviços de um filósofo. Como os sofistas, filósofos ensinavam técnicas persuasivas, mas ao contrário deles, os filósofos pensavam que ao invés de ensinar seus pupilos a persuadir, eles deviam ensiná-los a como viver bem. Consequentemente, de acordo com o historiador H. I. Marrou, em seus ensinamentos eles enfatizavam “o aspecto moral da educação, o desenvolvimento da personalidade e a vida interior.” Na medida em que faziam isso, muitos filósofos proveram a seus pupilos uma Filosofia de Vida: Eles os ensinavam que coisas na vida eram dignas de serem perseguidas e como melhor persegui-las.

 

 

Alguns destes pais que procuravam uma educação filosófica para seus filhos contratavam um filósofo para agir como um tutor particular; Aristóteles, por exemplo, foi contratado pelo Rei Felipe da Macedônia para ser tutor de Alexandre, que mais tarde se tornou “O Grande.” Aqueles que não podiam pagar um tutor particular enviavam seus filhos - mas provavelmente não suas filhas - para uma escola de filosofia. Após a morte de Socrates, estas escolas se tornaram proeminentes patrimônios da cultura Ateniense, e então, no segundo século antes de Cristo, encantada com a cultura Ateniense, as escolas de filosofia começaram a também aparecer em Roma.

 

 

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Não existem mais escolas de filosofia, e isto é uma vergonha. É verdade que filosofia continua a ser ensinada nas escolas - mais precisamente, dentro dos departamentos de filosofia de universidades - mas o papel cultural aplicado por departamentos de filosofia é bem diferente do papel aplicado pelas antigas escolas filosóficas. Por exemplo, aqueles que se matriculam nas aulas de filosofia oferecidas pelas universidades estão raramente motivados a fazer-lo por um desejo de adquirir uma Filosofia de Vida.; ao invés disso, eles assistem aulas pois seus orientadores dizem que se eles não o fizerem, não irão se formar. E se eles buscarem uma Filosofia de Vida, eles irão, na maioria das universidades, ter muito trabalho em encontrar alguma aula que lhes ofereça isso.

 

 

Mas mesmo que escolas de filosofia sejam uma coisa do passado, as pessoas precisam tanto de uma Filosofia de Vida quanto precisavam no passado.. A questão é, onde elas podem ir para obter uma? Se forem ao departamento de filosofia de uma universidade, elas irão, como já expliquei, provavelmente ser desapontadas.

 

 

E se ao invés disso elas procurassem a igreja local. Seu pastor poderá lhes dizer o que devem fazer para se tornarem uma boa pessoa, isto é, o que devem fazer para ser moralmente íntegros. Elas podem ser instruídas, por exemplo, a não roubar ou mentir, ou (em algumas religiões) não praticar abortos. O pastor irá também provavelmente explicar o que devem fazer para terem uma boa vida após a morte: Deverão ir a missa/culto regularmente e rezar/orar, e (em algumas religiões) pagar o dízimo. Mas o pastor terá relativamente pouco a dizer sobre o que elas devem fazer para ter uma boa vida. Em realidade, a maioria das religiões, após informar aos convertidos o que devem fazer para serem moralmente íntegros e entrarem no céu, deixam para que eles determinem quais coisas na vida valem ou não a pena serem perseguidas. Estas religiões não vêem nada de errado em um convertido trabalhar duro para que possa comprar uma mansão e um carro esportivo caro, com tanto que ele não desrespeite as leis ao fazê-lo; também não vêem nada de errado caso o convertido abandone a casa por uma cabana ou abandone o carro por uma bicicleta.

 

 

E se as religiões oferecem aos seus seguidores conselhos sobre quais coisas na vida são ou não são bons objetivos, elas tendem a oferecer este conselho de uma maneira tão branda que os seguidores podem entender isso como apenas uma sugestão ao invés de uma diretiva sobre como viver e podem resolver ignorar este conselho. Isso, podemos imaginar, é o motivo dos seguidores de várias religiões, apesar das diferenças em suas crenças religiosas acabarem com as mesmas impensadas filosofias de vida, nomeadamente, formas de Hedonismo Esclarecido.

 

 

Portanto, apesar de Luteranos, Batistas, Judeus, Mórmons, e Católicos terem diferentes visões religiosas, eles são marcantemente parecidos quando encontrados fora da igreja ou sinagoga. Eles têm trabalhos similares e ambições profissionais similares. Vivem em casas similares, mobiliadas de maneiras similares. E eles desejam da mesma maneira por quaisquer produtos de consumo que estejam atualmente na moda.

 

 

É claramente possível para uma religião requerer de seus seguidores a adoção de uma filosofia de vida em particular. Considere, como exemplo, a religião Huterita, que ensina seus seguidores que uma das coisas mais valiosas na vida é o senso de comunidade.

 

 

Huteritas são, assim sendo, proibidos de adquirir propriedade privada, sendo a razão disso que tal propriedade podem dar início a sentimentos de inveja, que por sua vez pode destruir o senso de comunidade que os Huteritas valorizam. (Nós podemos, é claro, questionar se isso é uma Filosofia de Vida razoável.)

 

 

Muitas religiões, no entanto, não requerem que seus seguidores adotem uma filosofia de vida em particular. Contanto que os seguidores não causem dano a outros e não façam coisas que contrariam Deus, eles são livres para viver como quiserem. Portanto, se a religião Huerita parece tanto extremista quanto exótica para a maioria das pessoas, isso se dá por que elas não conseguem se imaginar pertencendo a uma religião que diz a elas como viver suas vidas.

 

 

O que isso quer dizer é que inteiramente possível nos dias de hoje uma pessoa ter sido criada em uma religião e ter tido aulas de filosofia na escola e mesmo assim ainda não possuir uma Filosofia de Vida. (Realmente, esta é a situação em que muitos de meus estudantes se encontram.) O que, então, aqueles que procuram uma Filosofia de Vida devem fazer? Talvez sua melhor opção seja criar para si mesmos uma escola de filosofia virtual lendo os trabalhos dos filósofos que dirigiram as antigas escolas. Isto, em certo grau, é o que, nas próximas páginas, eu encorajarei os leitores a fazer.

 

 

Na Grécia antiga, quando as escolas de filosofia ainda eram aspectos proeminentes do campo cultural, existiam inúmeras escolas para as quais os pais podiam enviar seus filhos. Suponhamos que pudéssemos viajar no tempo para 300 Ac e fizéssemos uma caminhada reflexiva por Atenas. Poderíamos iniciar nossa caminhada por Ágora, onde Sócrates um século antes filosofou com os cidadãos de Atenas. Na região norte de Ágora poderíamos ver a Stoa Poikile, ou o Pórtico Pintado, e lá encontráriamos Zenão de Cítio, o fundador da Escola Estóica de Filosofia. Este “pórtico” era na verdade uma colunata decorada com murais.

 

 

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ZENÃO DE CÍTIO

Enquanto andávamos por Atenas, poderíamos passar pelo Filósofo Cínico Crates, de quem Zenão um dia frequentou a escola. Apesar dos primeiros Cínicos se encontrarem próximo ao ginásio de Cinosarges - daí o nome deles - eles podiam ser encontrados em qualquer lugar de Atenas, tentando atrair (ou arrastar, se necessário) pessoas comuns para a discussão filosófica. Além disso, mesmo que os pais estivessem dispostos a mandar seus filhos para estudar com Zenão, era muito difícil que eles os encorajassem a se tornarem Cínicos, afinal de contas as doutrinas cínicas, se internalizadas com sucesso, poderiam garantir a seus filhos uma vida de pobreza terrível.

 

 

Seguindo para noroeste e deixando a cidade pelo Portão Dipylon, podemos chegar ao Jardim dos Epicuristas, presidido por Epicuro em pessoa. Enquanto o Pórtico Pintado estava em um ambiente urbano, com as aulas estóicas sendo periodicamente interrompidas, pode-se imaginar, pelo barulho das ruas ou os comentários dos pedestre, o Jardim de Epicuro tinha um clima rural distinto. O Jardim era de fato um jardim funcional onde os epicuristas plantavam seus próprios vegetais. Continuando rumo ao noroeste, a uma milha de Ágora, nós chegaríamos a Academia, a escola de filosofia fundada por Platão em 387 Ac, um pouco mais de uma década após a morte de Sócrates. Como o Jardim de Epicuro, a Academia foi um impressionante local onde se filosofar. Era um retiro parcial, decorado com caminhos calçados e fontes.

 

 

No terreno da Academia existiam construções, pagas por Platão e seus amigos. Levando em consideração a época de 300 Ac pode ter sido Polemo, quem herdou a posição de mestre da escola. (O filósofo estoico Zenão, como veremos, frequentou a escola de Polemo por um tempo.)

 

 

Retornando, passando pela cidade novamente, e saindo dos portões da cidade pelos subúrbios orientais, nós chegariamos ao Liceu. Nesta área arborizada, próximos a um templo de Apolo Liceano, nós encontraríamos os Peripatéticos, discípulos de Aristóteles, andando e conversando, e ao fim deste grupo estaria Teofarasto.

 

 

Mas isto era apenas o começo das opções educacionais abertas aos antigos pais. Além das escolas mencionadas em nossa caminhada, existiam as escolas Cirenaica, Cética, Megariana, e Helênica mencionadas anteriormente, as quais podemos adicionar diversas outras mencionadas por Diógenes Laércio, incluindo a Eretriana, Anicerana e Teodorana, juntamente com as escolas matidas pelos Eudemonistas, os Amantes de Verdade, os Refutacionistas, os Racionais por Analogia, os Físicos, os Moralistas, e os Dialéticos. Como era de se esperar, homens jovens (e raramente, mulheres jovens) não eram os únicos a frequentarem escolas de filosofia.

 

 

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Algumas vezes os pais estudavam com seus filhos. Em outros casos, adultos frequentavam as aulas nas escolas por si mesmos. Alguns destes adultos tinham um simples interesse em filosofia; talvez tenham frequentado uma escola quando jovens e então buscavam “formação continuada” na Filosofia de Vida ensinada por aquela escola. Outros adultos, apesar de nunca terem pertencido a uma escola, podiam ter assistido aulas como convidados. Suas motivações eram provavelmente as mesmas com as quais indivíduos modernos assistem aulas públicas: Procurando se tornar esclarecidos e entretidos.

 

 

Alguns outros adultos tinham motivos posteriores para frequentarem escolas de filosofia. Eles queriam começar suas próprias escolas e assistiam aulas de diretores de escolas de sucesso para tomar emprestadas idéias filosóficas que poderiam usar em seus próprios ensinamentos. Zenão de Citio foi acusado de fazer exatamente isto: Polemo reclamou que os motivos para que Zenão assistisse suas aulas na Academia eram os de roubar suas doutrinas.

 

 

As escolas de filosofia rivais diferiam nos temas que ensinavam. Os primeiros Estóicos, por exemplo, eram não somente interessados em uma Filosofia de Vida, mas em física e em lógica também. pela simples razão de que eles pensavam que essas áreas de estudo eram intimamente ligadas. Os Epicuristas compartilhavam com os Estóicos o interesse em física (apesar de terem visões diferentes a respeito do mundo físico) mas não mantinham o mesmo interesse em lógica. Os Cirenaicos e Cínicos não eram interessados nem em física ou lógica; em suas escolas, tudo que alguém podia aprender era uma Filosofia de Vida.

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Aquelas escolas que ofereciam aos alunos uma Filosofia de vida diferiam na filosofia que recomendavam. Os Cirenaicos, por exemplo ensinavam que o grande objetivo em viver era a experiência do prazer e então advogavam tomar vantagem de todas a oportunidades de experiência-lo. Os Cínicos advogavam um estilo de vida ascético: Se você quer uma boa vida, eles argumentavam, você precisa aprender a desejar quase nada. Os Estóicos ficavam em algum lugar entre os Cirenaicos e os Cínicos: Eles ensinavam que as pessoas podem aproveitar as coisas boas que a vida tem para oferecer, incluindo a amizade e a riqueza, mas apenas se elas não se tornassem dependentes destas coisas boas. Na realidade, eles ensinavam que devemos periodicamente interromper nossos prazeres com as coisas que a vida poderia nos oferecer para passar algum tempo contemplando a perda do que quer que seja que estejamos aproveitando.

 

 

Afiliar-se a uma escola de filosofia era algo sério. De acordo com o historiador Simon Price, “Aderência a um secto filosófico não era simplesmente uma ação da mente, ou o resultado de mero modismo intelectual. Aqueles que levavam suas filosofias a sério tentavam viver aquela filosofia diariamente.” Assim como a religião de um indivíduo moderno pode se tornar o elemento chave de sua identidade pessoal - pense em um Cristão renascido - uma antiga associação filosófica Grega ou Romana se torna uma parte importante de quem ele era. De acordo com o historiador Paul Veyne, “Para verdadeiramente ser um filósofo tinha que viver a doutrina de seu secto, conformar suas condutas ( e até suas vestes) a ela, e se necessário, morrer por ela.

 

 

Leitores deste livro podem no entanto manter em mente que apesar de eu advogar o Estoicismo como Filosofia de Vida, ele não é a única opção disponível para aqueles buscando uma filosofia. Além disso, apesar dos Estóicos terem pensado que poderiam provar que a filosofia deles era a Filosofia de Vida correta, eu não (como veremos no capítulo 21) acho que tal prova é possível. Ao invés disso, eu penso que a filosofia de vida que uma pessoa pode escolher depende de sua personalidade e das circunstâncias.

 

 

Mas havendo admitido isto, deixe me dizer que penso que existem muitas pessoas a quem a personalidade e as circunstâncias os fazem maravilhosos candidatos a pratica do Estoicismo. Além disso, qualquer que seja a Filosofia de vida que uma pessoa acabe adotando, ela provavelmente terá uma vida melhor do que se tivesse tentado viver - como muitas pessoas fazem - sem uma Filosofia de Vida coerente.

créditos: http://tyrantdesisto.blogspot.com

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