O momento mais estranho em "M3gan"

[CyberLady 976]

 

O sucesso de comédia de terror sobre um robô fora de controle, não é um olhar robótico flamboyant ou uma cena de assassinato elaborada, mas um riso culpado. Ele ocorre quando a contagem de corpos começa a aumentar, a trama se acelera e um detetive rude (Millen Baird, seco como o deserto) chega a uma casa suburbana como parte de uma investigação. Você já viu esse tipo de personagem em inúmeros procedimentais: sério, amarrotado e com sobrancelhas franzidas. Seu objetivo é deixar a protagonista, uma engenheira interpretada por Allison Williams, nervosa e avançar a história. Mas, após informá-la que um menino que recentemente morreu teve a orelha arrancada, esse tipo familiar faz algo inesperado: ele ri. "Desculpe, eu não deveria rir", ele diz, se corrigindo.

 

Essa troca inteira acontece tão rápido que é fácil perder a estranheza disso. É uma coisa para uma criança ser assassinada de forma grotesca em um filme de classificação PG-13, mas outra para um homem adulto ficar um pouco aleatoriamente divertido com isso. A parte mais fascinante é que as duas vezes que vi "M3gan", isso gerou uma grande risada. Um dos seus produtores, Adam Hendricks, me disse que nenhuma cena recebeu feedback mais positivo, levantando uma pergunta desconfortável: o que há de engraçado em rir da morte de uma criança?

 

O diretor do filme, Gerard Johnstone, me disse que em uma das suas últimas passadas pelo roteiro, ele inseriu a linha para adicionar alguma leveza a uma cena que ele achava que era de forma funcional. Ele disse que o público riu porque a transgressão e a desculpa subverteram o traço tradicional do detetive sério, apenas os fatos. Mas Johnstone também deixou claro que ele nunca analisou muito essa linha. "Só me fez rir", ele disse em uma chamada de vídeo da Nova Zelândia, onde ele e Baird são de. Ele acrescentou que sempre teve um som específico em mente. "Tinha que ser um risinho. Se fosse grande, seria muito amplo. É uma dessas coisas engraçadas: tão específico."

 

Quando ele apresentou a ideia, houve ceticismo. Os produtores acharam que ela não faria parte da edição final. Johnstone lembrou que um executivo da Blumhouse, Couper Samuelson, defendeu que ela fosse cortada. "Lembro que meu editor disse: 'Se houver uma cena com um alvo na cabeça, é essa'", disse Johnstone, até mesmo sugerindo haver momentos em que ele estava perdendo a fé. Mas ele insistiu em mantê-la até a pré-estreia, onde gerou a maior risada do filme. O risinho ficou na cena.

 

Uma explicação para o seu sucesso é que o humor inadequado é inerentemente divertido. Crianças cochichando em bibliotecas sabem disso. Assim como os espectadores de teatro nas reestreias de Broadway de "The Music Man" e "Funny Girl", que, nas noites em que assisti, explodiram com risadas quando as estrelas quebraram o personagem e riram. Seja planejado ou não, esse tipo de quebra da quarta parede é bom para uma risada fácil. E minha leitura inicial da cena em "M3gan" é que havia um elemento de sua ridiculousidade que sugeria um piscar de olhos semelhante aos seus espectadores.

 

A risada age como uma mensagem para o público de que este é o tipo de filme campy onde é aceitável rir de coisas sombrias. O detetive se desculpa, mas você não precisa. Dar aos espectadores permissão para desfrutar de atos violentos ou imorais é, sem dúvida, muito mais central para o prazer do terror - e da arte em geral - do que a maioria dos fãs ou críticos permite. Não somos atraídos por histórias sobre loucos, mafiosos e assassinos em série apenas para sermos lembrados de quão ruins eles são.

 

“Tem muito humor inadequado no filme”, disse Johnstone. “Nas pré-estreias, as pessoas disseram: 'Não sei se devo rir'. Uma cena como essa deve ajudar as pessoas a descobrir isso."